(Um casal mutilado, com a maquiagem dando ideia que ambos têm várias partes do corpo faltando).
Ele: Você me devorou.
Ela: Não,foi você. Eu era virgem quando nos conhecemos. Você me prometeu amor eterno e disse que iria cuidar de mim com carinho.
Ele: E você não me contou que era sonâmbula.
Ela: E você não me disse que roncava.
Ele: E você não me disse que jogava os pelos da depilação na privada e não dava descarga.
Ela: E você não me falou que dormia de luz acesa.
Ele: E você não me falou que dormia de luz apagada.
Ela: Você me devorou.
Ele: Foi você.
(Ambos executam a dança da devoração, em que simulam canibalizar o outro, fingindo morder a perna, a mão, o rosto do ex-parceiro. Termina com música de Stockhausen, dando ideia de decomposição. Ambos terminam caídos no chão, tentando se mover, apesar do péssimo estado em que se encontram).
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
CHEGAMOS AO DESERTO
Peça de rua
(Sete atores caminham pelas ruas de São Paulo).
Primeiro ator: Chegamos ao deserto.
Segundo: Que deserto?
Terceiro: A umidade relativa do ar está em 17%.
Quarto: É o deserto.
Quinto: Eu quero água.
Sexto: Não tem água no deserto.
Sétimo: E oásis?
Primeiro: Neste deserto só tem carros, concreto, gente sobre gente.
Segundo: Depois do deserto, o que existe?
Terceiro: Mais deserto.
Quatro: Não estou vendo os camelos.
Quinto: Aqui há camelôs.
Sexto: Cada deserto com a sua sílaba tônica.
Sétimo: Camelos ou camelôs.
(Todos falam ao mesmo tempo, primeiro em tom calmo, no final, desesperados):
Queremos água.
Quem tem água?
Quem tem chuva para nos emprestar?
Quem tem...?
(Ficam imóveis).
(Sete atores caminham pelas ruas de São Paulo).
Primeiro ator: Chegamos ao deserto.
Segundo: Que deserto?
Terceiro: A umidade relativa do ar está em 17%.
Quarto: É o deserto.
Quinto: Eu quero água.
Sexto: Não tem água no deserto.
Sétimo: E oásis?
Primeiro: Neste deserto só tem carros, concreto, gente sobre gente.
Segundo: Depois do deserto, o que existe?
Terceiro: Mais deserto.
Quatro: Não estou vendo os camelos.
Quinto: Aqui há camelôs.
Sexto: Cada deserto com a sua sílaba tônica.
Sétimo: Camelos ou camelôs.
(Todos falam ao mesmo tempo, primeiro em tom calmo, no final, desesperados):
Queremos água.
Quem tem água?
Quem tem chuva para nos emprestar?
Quem tem...?
(Ficam imóveis).
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
O CHEFE SEM CABEÇA
(Dois funcionários conversando)
Primeiro funcionário (falando baixo): O nosso chefe perdeu a cabeça.
Segundo funcionário: Na verdade, ele nunca teve.
( Um homem sem cabeça entra na sala. Eles se assustam)
O chefe sem cabeça: Eu demiti hoje os meus dez melhores funcionários. Vocês foram preservados porque provaram a sua incompetência. Se continuarem assim, permanecerão comigo. Se fizerem tudo certinho, serão eliminados. Detesto quem quer aparecer mais do que eu.
(Ele sai)
Primeiro funcionário: Como será que ele consegue sobreviver sem cabeça?
Segundo funcionário: Sobreviver? Ele vive muito bem. É milionário.
Primeiro funcionário: Você tem razão. A cabeça às vezes atrapalha.
Segundo funcionário: Ainda um dia corto a minha para ver o que acontece.
( O primeiro funcionário olha para o segundo funcionário concordando com o que ele disse).
Primeiro funcionário (falando baixo): O nosso chefe perdeu a cabeça.
Segundo funcionário: Na verdade, ele nunca teve.
( Um homem sem cabeça entra na sala. Eles se assustam)
O chefe sem cabeça: Eu demiti hoje os meus dez melhores funcionários. Vocês foram preservados porque provaram a sua incompetência. Se continuarem assim, permanecerão comigo. Se fizerem tudo certinho, serão eliminados. Detesto quem quer aparecer mais do que eu.
(Ele sai)
Primeiro funcionário: Como será que ele consegue sobreviver sem cabeça?
Segundo funcionário: Sobreviver? Ele vive muito bem. É milionário.
Primeiro funcionário: Você tem razão. A cabeça às vezes atrapalha.
Segundo funcionário: Ainda um dia corto a minha para ver o que acontece.
( O primeiro funcionário olha para o segundo funcionário concordando com o que ele disse).
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
O FICHA SUJÍSSIMA
Ficha Sujísissima se encontra na rua com um eleitor.
Ficha Sujíssima: Vote em mim, eu vou fazer mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais...
(A sua barriga postiça começa a inflar até explodir. Dela saem notas de dinheiro e mais dinheiro. O candidato estirado no chão passa a emitir um som de alarme bem alto.
O eleitor corre de um lado para outro, desarvorado).
Ficha Sujíssima: Vote em mim, eu vou fazer mais, mais, mais, mais, mais, mais, mais...
(A sua barriga postiça começa a inflar até explodir. Dela saem notas de dinheiro e mais dinheiro. O candidato estirado no chão passa a emitir um som de alarme bem alto.
O eleitor corre de um lado para outro, desarvorado).
OS AMARRADOS
Peça de rua.
Um grupo de sete pessoas, amarradas umas nas outras com fitas, anda pela Avenida Paulista em Sâo Paulo.Tentam se soltar, e nessa tentativa fazem movimentos estranhos, quase numa dança).
Amarrado 1 para o amarrado 2: Você me amarrou.
Amarrado 2 para o amarrado 1: Foi você que me amarrou.
Amarrado 3, olhando para as pessoas que passam: Foi você que me amarrou.
Amarrado 4: Foi você que me amarrou.
Amarrado 5: Foi você que me amarrou.
Amarrado 6: Foi você que me amarrou.
Amarrado 7: Foi você que me amarrou.
Todos amarrados ao mesmo tempo, fazendo movimentos os mais variados: Você me desamarra? Quem me desamarra? Quem me desamarra?
(A peça é cíclica. Demora tempo indeterminado porque os atores vão se movimentando pela avenida e, com isso, têm contato com um público que vai se alternando).
(A ideia é que haja uma interatividade com as pessoas. Enquanto uma desamarra um dos personagens, os outros continuam falando em tom alto): Quem me desamarra? Quem me desamarra?
Um grupo de sete pessoas, amarradas umas nas outras com fitas, anda pela Avenida Paulista em Sâo Paulo.Tentam se soltar, e nessa tentativa fazem movimentos estranhos, quase numa dança).
Amarrado 1 para o amarrado 2: Você me amarrou.
Amarrado 2 para o amarrado 1: Foi você que me amarrou.
Amarrado 3, olhando para as pessoas que passam: Foi você que me amarrou.
Amarrado 4: Foi você que me amarrou.
Amarrado 5: Foi você que me amarrou.
Amarrado 6: Foi você que me amarrou.
Amarrado 7: Foi você que me amarrou.
Todos amarrados ao mesmo tempo, fazendo movimentos os mais variados: Você me desamarra? Quem me desamarra? Quem me desamarra?
(A peça é cíclica. Demora tempo indeterminado porque os atores vão se movimentando pela avenida e, com isso, têm contato com um público que vai se alternando).
(A ideia é que haja uma interatividade com as pessoas. Enquanto uma desamarra um dos personagens, os outros continuam falando em tom alto): Quem me desamarra? Quem me desamarra?
O HOMEM COLADO
(Um executivo de terno e gravata está sentado em sua cadeira).
O funcionário: O sr. não vai para casa hoje?
O executivo: Sou um homem de negócios. Não sou um homem de casa, de família.
(Depois de um mês)
O funcionário: Há um mês que o sr. não sai do escritório.
O executivo (com o terno amassado e com olheiras): Pare de me secar, seu cretino. Vou resistir muito mais.
(Depois de um ano)
O funcionário: O sr. ainda está aí?
(O executivo está morto).
O funcionário grita: Ele morreu.
(Dois funcionários tentam retirá-lo da cadeira).
Um deles grita: É impossível. Ele está colado.
O primeiro funcionário: Ele está colado! Ele está colado!
(Os três ficam paralisados e perplexos).
O funcionário: O sr. não vai para casa hoje?
O executivo: Sou um homem de negócios. Não sou um homem de casa, de família.
(Depois de um mês)
O funcionário: Há um mês que o sr. não sai do escritório.
O executivo (com o terno amassado e com olheiras): Pare de me secar, seu cretino. Vou resistir muito mais.
(Depois de um ano)
O funcionário: O sr. ainda está aí?
(O executivo está morto).
O funcionário grita: Ele morreu.
(Dois funcionários tentam retirá-lo da cadeira).
Um deles grita: É impossível. Ele está colado.
O primeiro funcionário: Ele está colado! Ele está colado!
(Os três ficam paralisados e perplexos).
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
GODOT DANÇOU
Dois personagens sem nome, em uma estrada deserta.
Um: Godot não veio. Pior pra ele.
Dois: Por que pior pra ele?
Um: Porque ele também dependia de nós. Sem quem o espere, ele não existe.
Dois: Quem disse que ele existe?
Um: Foi você.
Dois: Não. Foi você.
Um: Depois da morte de Beckett, ele não vem mesmo.
Dois: Você tem razão. Pelo menos estamos livres dele.
Um: Godot dançou. E nós sobrevivemos à espera.
Dois: Pra onde vamos agora?
Um: Para a próxima peça. Somos atores. Você se esqueceu?
Dois: Somos atores. E a próxima peça é sempre estimulante.
Um: Até lá. Nós nos encontraremos no palco.
Dois: Sem Godot.
Um: Sem Godot. Os novos tempos serão mais produtivos. Esperar cansa.
Dois: Esperar é o fim. E nós estamos só no começo.
(Um olha para o outro e ambos riem).
Um: Godot não veio. Pior pra ele.
Dois: Por que pior pra ele?
Um: Porque ele também dependia de nós. Sem quem o espere, ele não existe.
Dois: Quem disse que ele existe?
Um: Foi você.
Dois: Não. Foi você.
Um: Depois da morte de Beckett, ele não vem mesmo.
Dois: Você tem razão. Pelo menos estamos livres dele.
Um: Godot dançou. E nós sobrevivemos à espera.
Dois: Pra onde vamos agora?
Um: Para a próxima peça. Somos atores. Você se esqueceu?
Dois: Somos atores. E a próxima peça é sempre estimulante.
Um: Até lá. Nós nos encontraremos no palco.
Dois: Sem Godot.
Um: Sem Godot. Os novos tempos serão mais produtivos. Esperar cansa.
Dois: Esperar é o fim. E nós estamos só no começo.
(Um olha para o outro e ambos riem).
segunda-feira, 17 de maio de 2010
ESPERANDO GODARD
(Jornalistas e cinegrafistas do mundo inteiro presentes ao Festival de Cannes, 2010, estão estão ansiosos esperando para entrevistar a maior atração do Festival, o cineasta Jean-Luc Godard)
Uma jovem jornalista: Godard vai chegar.
Um cinegrafista: Godard já está chegando.
Um jornalista de aproximadamente cinquenta anos: O mestre Godard já vem.
(Entra na sala a porta-voz do Festival, pede atenção e silêncio.
Porta-voz: Sinto muito informar-lhes que Godard não virá para a entrevista.
Um jornalista: É impossível.
Uma jornalista: É inadmissível.
Outro jornalista: Para Godard nada é impossível.
Mais um jornalista: Godard não é um Deus.
Uma criança que entra na sala repentinamente: Quem é Godard?
(Todos se olham com expressão de horrorizados)
Uma jovem jornalista: Godard vai chegar.
Um cinegrafista: Godard já está chegando.
Um jornalista de aproximadamente cinquenta anos: O mestre Godard já vem.
(Entra na sala a porta-voz do Festival, pede atenção e silêncio.
Porta-voz: Sinto muito informar-lhes que Godard não virá para a entrevista.
Um jornalista: É impossível.
Uma jornalista: É inadmissível.
Outro jornalista: Para Godard nada é impossível.
Mais um jornalista: Godard não é um Deus.
Uma criança que entra na sala repentinamente: Quem é Godard?
(Todos se olham com expressão de horrorizados)
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
OS SUBMERSOS
(Dois homens e uma mulher estão dentro de um tanque cheio d´água, só com a cabeça pra fora, como se estivessem em uma inundação).
A mulher (desesperada) Socorro. Ajudem a salvar as minhas jóias e o meu carro.
Primeiro homem: Perdi todos os meus cartões e o meu celular.
Segundo homem: O meu carro desapareceu na enxurrada.
A mulher: As minhas joias são de família.
(fica totalmente submersa na água).
Primeiro homem: Sem os meus cartões e o meu celular eu não existo. (Também submerge).
Segundo homem: Vou procurar o meu carro nas profundezas. (Também desaparece na água).
A mulher (desesperada) Socorro. Ajudem a salvar as minhas jóias e o meu carro.
Primeiro homem: Perdi todos os meus cartões e o meu celular.
Segundo homem: O meu carro desapareceu na enxurrada.
A mulher: As minhas joias são de família.
(fica totalmente submersa na água).
Primeiro homem: Sem os meus cartões e o meu celular eu não existo. (Também submerge).
Segundo homem: Vou procurar o meu carro nas profundezas. (Também desaparece na água).
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